quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Convento de Mafra

Até parece que foi há poucas semanas que ali estive, mas já passaram 15 anos. Foi em Fevereiro do ano de 1996 que fui colocado na Escola Prática de Infantaria, situada no Convento de Mafra, durante o meu serviço de militar obrigatório. Embora este quartel esteja numa pequena parte do Convento digo sem qualquer embaraço que durante o primeiro mês não conseguia andar sozinho sem me perder no seu interior. Tem muitos corredores em cada piso e todos eles são de uma largura e altura impressionantes, desde o chão às paredes, dá-nos a sensação que é tudo feito de pedra. Tem inúmeras escadas para nos deslocarmos para os diversos pisos e as janelas parecem tiradas de um filme, de tão grandes que são. Quanto às paredes, devem de ter cerca de 1 metro de espessura.
Fiquei impressionado com este quartel, porque o convento é de tal forma grandioso que nos sentimos também nós grandiosos. Digo ainda hoje que gostava de lá voltar para recordar os muitos momentos que vivi neste convento.
Entrei no mês de Fevereiro de 1996 e sai em Outubro de 1997 e todos os dias, sem excepção, estava um frio enorme dentro do convento. Em certos dias de inverno assisti a um acontecimento que jamais penso voltar a ver, pois o nevoeiro que estava na rua era o mesmo que estava nos corredores que estavam virados para a tapada Real.

O Convento de Mafra começou a ser construído em 1717 por D. João V. Ao todo foram 52.000 o número de trabalhadores que construíram este monumento que é um símbolo do reinado absolutista de D. João V. O Real Convento de Mafra é o mais importante monumento do barroco português. O conjunto arquitectónico desenvolve-se simetricamente a partir de um eixo central, a basílica, ponto principal de uma longa fachada ladeada por dois torreões, localizando-se na sua zona posterior o recinto conventual da Ordem de São Francisco da Província da Arrábida. A direcção da obra coube a João Frederico Ludovice, ourives alemão, com formação de arquitectura em Itália. As obras iniciaram-se em 1717. A 22 de Outubro de 1730, dia do 41º aniversário do rei, procedeu-se à sagração da basílica. O Palácio-Convento possui uma das mais importantes bibliotecas portuguesas, constituída por cerca de 40 000 livros, e numerosas obras artísticas encomendadas pelo monarca no país, em França, Flandres (de onde procedem os dois carrilhões de 92 sinos) e Itália. Durante o reinado de D. José criou-se a Escola de Escultura de Mafra, dirigida pelo italiano Alessandro Giusti, e por onde passou Machado de Castro. Os números são impressionantes como testemunha a sua imensa área de aproximadamente 40000 m2, a sua fachada nobre possui 232 metros, 29 pátios, 363 janelas, entre elas algumas simuladas, no total o edifício conta com 2952, totaliza 4500 portas e janelas. Das suas 1200 divisões deste Palácio, realce para a Biblioteca, uma das mais importantes do século XVIII, com um acervo de cerca de 35 mil volumes, para o Convento, que constitui um património religioso ímpar no nosso país, para a Basílica, obra-prima da arquitectura setecentista, e para os famosos Carrilhões, conjunto único no mundo pelas suas dimensões e beleza, 217 toneladas que pesam os 110 sinos do seu famoso carrilhão. Foram encomendados por D. João V e são considerados entre os melhores do mundo, pois tocam valsas e contradanças. A forte ligação do palácio à música mantém-se até hoje. O claustro do Convento, também conhecido como Jardim do Buxo, ao qual só se tem acesso a partir da Escola Prática de Infantaria é outro dos muitos pontos interessantes deste convento. Depois ainda temos a Tapada Real, foi na monarquia um couto de caça real. Trata-se de um espaço muito rico em flora, com pinheiros mansos e bravos, sobreiros, carvalhos, plátanos e salgueiros, entre muitos outros, e em fauna: veados, gamos, javalis, raposas, lobos, águias, açores, mochos, etc. Muitas são as lendas acerca do Palácio de Mafra. A mais popular é a da existência de ratazanas enormes, capazes de comer pessoas. Embora os subterrâneos do Palácio tenham sido há muito explorados e não tenham dado mostras de ser habitados por ratazanas invulgares para aquela zona de esgotos. Pessoalmente, durante o tempo que lá estive não vi qualquer passagem ou forma de se ir para os pisos subterrâneos. Todas as escadas terminavam no piso térreo. Se existiu continuação das escadas para baixo não sei dizer porque o chão ali era sempre igual, de lajes de mármore. Um túnel que ligaria o Convento de Mafra à Ericeira e por onde teria escapado o rei D. Manuel II para o exílio também pertence ao imaginário. Embora exista, o túnel não passa da Vila de Mafra, tendo sido construído para escoar os esgotos do Palácio.
Convento de Mafra
Porta de Armas

Vista Aérea do Convento de Mafra

Sem comentários:

Enviar um comentário